quinta-feira, janeiro 19, 2006

O Tempo do Teu Amor

Subtilmente, arrastei os membros até ao cadeirão de todos os sonhos – bons, maus e até péssimos…
Sentia a dor entranhar-se pelos ossos fartos de resistir e cada vez mais fracos… Estava sozinha novamente e essa solidão doía mais do que todas as outras bofetadas que a vida um dia me havia dado. Era o sentimento “estar só” que me atormentava, que já não deixava os meus movimentos decorrerem de forma casual. Até o meu respirar já era pensado e, minuciosamente, articulado como se nunca tivesse tido a sensação de respirar espontaneamente.
Mas era essa a memória do tempo do “espontaneamente” que despertavam em mim o choro seco no seio de um olhar inerte, sem cor e sem perspectiva.
Farejei o odor do pó acumulado sobre os móveis antigos, farejei no ar ainda um velho perfume da memória que eu cismava em querer apagar, queimar, destruir, afastar para longe… A memória era ferida regada com álcool etílico do mais puro e esmigalhava-me todos os sentidos, mesmo os mais adormecidos e inúteis.
Aparentemente, nem um raio de sol ou um céu límpido de Maio poderiam ofertar um sorriso tolo às minhas entranhas.
O “tempo espontâneo” onde estava? Onde estava aquele sorriso ingénuo e quase absurdo?
Cansava o ímpeto com perguntas estranhas, meras retóricas sem qualquer feição elucidativa.
Mas no fundo, bem sabia que tudo se resumia a uma questĂŁo que eu temia fazer a mim mesma: Onde estaria o tempo do teu amor?

1 comentário:

Anónimo disse...

Como eu adoro tudo o que escreves! Lindooooooo :)