Subtilmente, arrastei os membros até ao cadeirão de todos os sonhos – bons, maus e até péssimos…
Sentia a dor entranhar-se pelos ossos fartos de resistir e cada vez mais fracos… Estava sozinha novamente e essa solidĂŁo doĂa mais do que todas as outras bofetadas que a vida um dia me havia dado. Era o sentimento “estar só” que me atormentava, que já nĂŁo deixava os meus movimentos decorrerem de forma casual. AtĂ© o meu respirar já era pensado e, minuciosamente, articulado como se nunca tivesse tido a sensação de respirar espontaneamente.
Mas era essa a memória do tempo do “espontaneamente” que despertavam em mim o choro seco no seio de um olhar inerte, sem cor e sem perspectiva.
Farejei o odor do pĂł acumulado sobre os mĂłveis antigos, farejei no ar ainda um velho perfume da memĂłria que eu cismava em querer apagar, queimar, destruir, afastar para longe… A memĂłria era ferida regada com álcool etĂlico do mais puro e esmigalhava-me todos os sentidos, mesmo os mais adormecidos e inĂşteis.
Aparentemente, nem um raio de sol ou um cĂ©u lĂmpido de Maio poderiam ofertar um sorriso tolo Ă s minhas entranhas.
O “tempo espontâneo” onde estava? Onde estava aquele sorriso ingénuo e quase absurdo?
Cansava o Ămpeto com perguntas estranhas, meras retĂłricas sem qualquer feição elucidativa.
Mas no fundo, bem sabia que tudo se resumia a uma questĂŁo que eu temia fazer a mim mesma: Onde estaria o tempo do teu amor?
quinta-feira, janeiro 19, 2006
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1 comentário:
Como eu adoro tudo o que escreves! Lindooooooo :)
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