sexta-feira, julho 15, 2005

Tenho medo...

Tenho medo desta falta de amor, deste grito que trago abafado nas entranhas e que ecoa nas profundezas do ser que sou eu. E tenho medo das vozes que me despertam a meio da noite e repetem vezes infinitas que a solidão é a única almofada que eu posso abraçar. Tenho medo todas as manhãs quando abro a janela porque sei que nenhuma bela paisagem me poderá trazer de novo o sentimento.
Procuro um corpo quente, que me faça arrepiar, que me possua a inquietude dos gestos e me faça lembrar como é bom sentir... Embriago-me na solidão e no não-sentir; embriago-me na negação do amor... Oh mundo, não consigo amar; Oh, vida, não posso sentir!
Pensativa e presa em galhos secos que crescem por dentro das cortinas transparentes dos meus olhos, sinto as lágrimas sem sabor a escorrerem pela minha face. As lágrimas caiem e trespassam os meus lábios mas já não são salgadas, são como pingas de agua de nascente que perderam todas as propriedades específicas de mim. Pergunto à parede porquê, pergunto á cama porquê... Porquê?... Porquê???...
Componho um álbum de recordações na minha mente e começo a ver as fotografias alegres e coloridas dos tempos antigos quando as lágrimas ainda sabiam ao sal, quando as lágrimas ainda sabiam a mim. É o meu álbum azul, é o meu álbum de todas as cores possíveis e imaginárias. Vejo uma criança pequena que inventava histórias e nunca gostou d brincar com bonecas... Vejo uma miúda apaixonada pela primeira vez, que perdia o apetite e passava a vida a sorrir sem ninguém saber porquê... Vejo tanta coisa doce, tantos sentimentos sublimes e insubstituíveis... Vejo o mundo colorido na hora do amor, na hora em que tudo o mais se esquece e são exaltadas todas as formas belas e perfeitas que compõem a história do sentimento mais puro... Custa-me fechar o álbum de todas as cores e cair em mim presa neste quarto, agarrada à frieza destas quatro paredes, à desilusão que transborda, agora, em todos os sorrisos e mimos.
Já não sinto os lençóis a roçarem na minha pele dorida, já não te sinto a espetar facas afiadas nas argolas que sempre protegeram o meu sentir e a anestesiaram de tal forma que ele teima em não acordar. Será que ele um dia vai acordar? Será que tu sabes que é tua a culpa do meu sentir anestesiado? Não tinhas o direito, não tinhas o direito! Raios te partam porque me mataste, porque me tiraste a ilusão, porque me roubaste a beleza e a fé na arte, nas pessoas e nos sentimentos. Raios te partam!
Só me deixaste este medo, este sufoco; só me deixaste esta mancha, esta nódoa no ser que eu não conheço e que sou eu...
E tenho medo...tenho medo de nĂŁo mais amar...
.
aster

Medo...

Tenho muito medo
Fico trémula, fria
Rodopio no meu desespero
Só porque não posso amar…
Mergulho no sangue
Perco-me nas imensas linhas
Das minhas mĂŁos
Sinto o medo de me dar…
.
Embarco na fraqueza
Que reflecte nos meus olhos
Navego na sombra
Do céu colado no chão
Suspiro o desconforto
E minto ser feliz
Compro um sorriso
Corrupto e sem razão…
.
Deslizo no muito pensar
Nada mais tenho que o medo
Que me diz em doloroso segredo
Que eu já não posso amar…
.
aster

Caminho na noite incerta

Caminho na noite incerta
O coração vai vazio
E frio…
Bruma, névoa encoberta…
.
Escondes-te de mim
Desvaneço na luz
Que seduz
O vazio sem fim…
.
NĂŁo te vejo,
NĂŁo te encontro
E confronto
O vazio do teu beijo…
.
Caminho na noite incerta
Um pedaço de terra
Uma pedra
Talvez uma porta aberta…
.
aster